Estação Primeira de Mangueira, uma jovem de 80 anos
Estação Primeira de Mangueira faz 80 anos no dia 28 de abril
Texto meu:
As Baterias das Escolas de Samba são formadas por instrumentos pesados e leves:
1 – Instrumentos pesados: surdos de marcação (de 1ª) e resposta (de 2ª); surdos de repenicar (repenique); surdos de terceira ou centralizadores; caixas de guerra e taróis.
2 – Instrumentos leves: Tamborins, pandeiros, cuícas, ago-agôs, reco-recos, chocalhos.
Basicamente existem 2 tipos de Baterias de Escolas de Samba, as que se originaram na beira das estradas de ferro (que possuem um estilo de tocar semelhante ao movimento de um trem) e as outras. A Mangueira, Portela, Império, Mocidade estão entre as de estilo “estrada de ferro”.
A bateria da Mangueira é muito fácil de se reconhecer porque é a única entre todas as Escolas de Samba que não utiliza surdo de resposta, apenas o surdo de primeira. Além disso, seus surdos de corte (de 3ª) são menores e com peles mais frouxas (muda a afinação) e os chocalhos são tocados na segunda do samba e ao na primeira como na maioria das Escolas.
Nesse vídeo podem reconhecer, sem dificuldade, o estilo "estrada de ferro" da Bateria da Mangueira
Texto reproduzido do site da Mangueira e do G1 Globo,com:
"Carlos Cachaça, nascido em Mangueira, nas proximidades do morro, no dia 3 de agosto de 1902, foi testemunha da primeira vez em que os mangueirenses ouviram um samba. Até então, eles cantavam e dançavam o jongo e os lundus do folclore ou os maxixes que aprendiam nas festas da igreja da Penha, numa época em que o rádio ainda não existia (a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade, surgiria em 1923). No carnaval, divertiam-se dançando nos cordões e nos ranchos.
A história da escola começava na madrugada de 28 de abril de 1928, quando Saturnino Gonçalves entra em casa, sorrateiro, acompanhado de outros seis ‘bambas’, sob o olhar fulminante da mulher, em pé, na porta da sala. “Minha filha, papai ficou uns dias fora para te trazer uma escola de samba de presente”, disse, olhando carinhosamente para a menina de 5 anos, que fazia aniversário e aguardava o pai para os parabéns. Bem, não se sabe se houve ‘barraco’ depois que a criança dormiu, mas a data marcou o nascimento de uma das escolas mais tradicionais do carnaval brasileiro.
“A desculpa do papai, para escapar da bronca de minha mãe, me transformou na dama do pedaço. Com isso, posso dizer que sou Mangueira desde que me entendo por gente”, conta Ulyssea Gonçalves, mais conhecida como Tia Cecea, filha do primeiro presidente da Verde-e-Rosa e irmã de um dos símbolos da escola, Dona Neuma.
Naquela noite, entre os fiéis escudeiros de seu pai, que se reuniram na Travessa Saião Lobato, estavam Zé Espinguela, Seu Euclides, Massu, Cartola, Pedro Caim e Aberlado Bolinha que fundaram o Bloco Estação Primeira. Eles eram os representantes do Bloco dos Arengueiros, o mais famoso da comunidade conhecida como Buraco Quente.
Perto dos 85 anos, Cecea, saboreando sua cerveja gelada predileta, não sai mais de casa, já que precisa dos cuidados dos filhos para controlar a diabetes. Mas, lembra, emocionada, cada episódio marcante da trajetória da escola.
“Vi e participei de praticamente tudo”, revela, exultante, ao contar seus momentos como cantora na Rádio Mayrink Veiga, no programa do Almirante, ou nas apresentações no Cassino Atlântico ao lado de Isaurinha Garcia, Dircinha Batista e Dalva de Oliveira. Orgulha-se, também, de ser uma das primeiras intérpretes de canções de Noel Rosa, Ary Barroso, Villa-Lobos, Cartola e Carlos Cachaça.
A história de Mangueira é assim, rica, grandiosa, cheia de emoção à flor da pele. Elegante, com seu inseparável chapéu Panamá, Laurindo da Silva, o Delegado, cruza a rua e observa o imponente Palácio do Samba, inaugurado em 1972. “Pôxa, como pode? Comecei nesse mundo do samba aos 7 anos e tô aí, com a mesma paixão, desde o primeiro alicerce, na alegria e na tristeza”, desaba, aos 86 anos, sendo 36 destes como mestre-sala e com nota máxima em 10 campeonatos consecutivos.
Embora tente esconder o tom de nostalgia, Delegado não nega a preferência pelos carnavais de antigamente. “Quando terminava o desfile, a gente saía para comemorar, juntos. Era uma confraternização da comunidade. Hoje, vai cada um para o seu lado”, lamenta. O maestro da escola deixou o gingado inconfundível na avenida aos 63 anos, depois do espetacular desfile de 1984, quando passou a ocupar a direção de harmonia.
“Aproveitei os ensinamentos de balé de Mercedes Batista para ter noção de coreografia. Um mestre sala precisa de muita habilidade corporal. Essa garotada deveria saber disso. Se bobear, ainda dou uma surra neles”, brinca a autoridade, em tom de desafio, ao lado da irmã, Arlete Silva, a Tia Suluca, 80 anos, baiana mais antiga da escola que ganhou a admiração do cantor americano Lenny Kravitz, durante visita à quadra da escola.
A Estação Primeira de Mangueira possui 18 títulos, sendo um supercampeonato, exclusivo, conquistado no ano de 1984, na inauguração do Sambódramo, com o enredo “Yes, nós temos Braguinha”, samba de autoria de Jurandir, Hélio Turco, Comprido, Arroz e Jajá. Três escolas foram para o sábado das campeãs, onde iriam disputar o supercampeonato. E a Mangueira foi aclamada. No desfile histórico, a Verde-e-Rosa, numa apresentação inédita, voltou evoluindo no sentido contrário, supreendendo os jurados e emocionando o público, eufórico.
“Tenho saudades do meu amigo Jurandir. Juntos, fazíamos o que se chama de polimento do samba. A gente ouvia as pastoras e ia acertando os trechos onde elas tinham dificuldades para cantar. O samba era assim, feito com alma. Carnaval precisa de leveza e alegria”, ensina Hélio Rodrigues Neves, o Hélio Turco, 72 anos, que no passado era também conhecido pelo apelido de “My friend”, numa visita ao Centro de Memória da Mangueira, na quadra da escola.
Hélio Turco venceu 16 vezes o concurso de sambas-enredos na Verde-e-Rosa e é recordista de vitórias entre as grandes escolas. Suas estrofes, algumas consideradas de métrica perfeita, foram incluídas em questões de vestibular. Ele também compôs batucadas, marchas-rancho e sambas de terreiro. Sua primeira composição surgiu em 1958, com o samba “Decaída”. Nos anos 90, Hélio se afastou das disputas de sambas na escola por discordar das imposições feitas aos compositores.
Dos grandes nomes que passaram pela Mangueira, não faltam baluartes – figuras mais antigas e respeitadas da escola –, como Carlos Cachaça, Cartola, José Ramos, Nelson Sargento, Xangô, Leléo, Dona Neuma, Dona Zica, Preto Rico, Raymundo de Castro e tantos outros. “Eles construíram a poesia que sustenta nossas vidas”, diz, inspirada, Inês de Castro, 70, filha de Carlos Cachaça.
Mas, uma das figuras mais emblemáticas, sem dúvida, é José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão. Intérprete oficial da escola de 1949 até 2006, tornou-se uma referência do samba carioca, com seu estilo mal-humorado e voz potente. Em 2006, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e não gravou o samba-enredo da Mangueira para o CD oficial das escolas do carnaval de 2007 nem pôde desfilar e, desde então, está afastado.
11 Comments:
Parabéns, por trazer um pouco da história aká...Bacana isso!
Um ótimo final de semana para você!
Vais fazer turismo aonde? rss
Beijo!
By Lu, at 11:37 AM
Mangueira é patrimônio cultural do carioca. Até quem é Beija-Flor, como eu, ama esta escola. Não tem como ficar indiferente.
Bjs
By Estava Perdida no Mar, at 9:32 PM
Interessante. Vc leu muito sobre a escola hein? rsrs Abraços!
[opiblogger.weblogger.com.br]
By Jéssica Laudares, at 10:20 PM
Agente precisa ver a vida em verde e rosa, como num belo carnaval de explodao de cores.... Mesmo quando olhos indecisos queira ver tudo em branco e preto...
Abraços!
By Anônimo, at 11:02 PM
Olá!
Obrigada pela visita.
Com certeza quero voltar ao Rio e conhecer mais coisas.
Parabéns à Mangueira.
Sempre foi minha escola de coração.
Abço
By Lua Rodrigues, at 8:53 AM
Pelo visto é tua escola do coração.
gosto da mangueira, mas prefiro a beija-flor!
Bjm
By Aline Ribeiro, at 10:00 AM
Visitantes ilustres, a Manga não é a minha Escola de coração. Mas eu amo o samba, esse samba emocionante das Escolas, e, então, revencio a Estação Primeira de Mangueira com o máximo de respeito, carinho e admiração possíveis.
Como bom amante do samba tenho nas veias um pouco do sangue verde-rosa, como tenho um pouco do sangue de todas as outras Escolas. Mas, tudo misturado, meu sangue é azul, minha pele é branca, sou da Portela, o berço do samba, onde tudo começou na Serrinha.
By Luiz, at 10:37 AM
Mangueira é quase como um patrimônio do Estado rs
Beijo
By Jana, at 9:02 AM
Luiz, me bateu uma saudade da cidade maravilhosa, esta que me colheu apenas por uma semana, mas que me fez um bem tão grande... como te falei ontem, quero comprar uma casa em santa teresa, ir trabalhar pegando o bonde todo dia, avistar os arcos da Lapa, passar por cima deles, ir a shows na fundição progresso... ai, ai... embora não leve o menor jeito pro samba, eu gosto de ver o desfile das escolas de samba, tenho uma paixonite aguda pela mocidade independente de padre miguel e eu não sei bem explicar pq, talvez pq antigamente a escola fazia enredos com idéias mais abstratas. gostei mto de nosso papo ontem. um abração, tenha uma semana iluminada.
By Júnior Creed, at 9:23 AM
Agradeço a gentileza. E também a visita.
;-)
Apareça sempre (e eu prometo fazer um comentário decente quando entender do assunto postado!).
Beijocas.
By Ruiva, at 8:21 PM
Oh. Luiz. Obrigada pelo seu coment. Acho que vc tem toda razão. Na verdade vc tem mesmo. E a vida sempre dá segundas chances para as verdades aparecerem.
Obrigada
Beijos
By Estava Perdida no Mar, at 8:27 PM
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